sexta-feira, 4 de junho de 2010

A Música, os Ritmos e os Instrumentos


Terceira parte
Conselhos litúrgicos e musicais para Igreja no tempo pós-moderno

A Igreja e o repertório musical

Existe uma narrativa que explica a vida e a História. Há padrões de beleza absolutos que estão além da linguagem e refletem a grandeza e a sabedoria de Deus que criou todas as coisas. Deste modo, há música boa e música ruim num sentido ético e num sentido estético. A música que se propõe às Igrejas evangélicas da atualidade é definida pela lógica do mercado, possui mensagem diluída, aceitável a uma gama enorme de clientes, cada vez menos exigentes. As formatações e métodos dessa música não diferem nada das formatações e métodos utilizados na música secular, cujo propósito infame tem se resumido a lançar um produto atraente, vendável, de fácil acesso e impressionante.


Tenho notado que, num processo mais lento do que o acontecido nas Igrejas Renovadas, Igrejas e crentes têm utilizado a produção musical desta linha. À luz da abertura de certos precedentes, mais e mais se têm cantado em Igrejas Batistas Regulares as músicas de Aline Barros, Kleber Lucas, Cassiane e Oficina G3. Em famílias de Igrejas Batistas Regulares, no aniversário das crianças, ao invés de Romilda, ouve-se Ana Paula Valadão e Cristina Mel, que replicaram os mesmos padrões musicais que escandalizaram famílias brasileiras nos programas infantis da década 1980.


Proponho que utilizemos como fonte de repertório musical para os cultos as músicas publicadas em hinários. Os hinários são organizados por doutrina, preservam o melhor da produção hinológica de diversas épocas e revisam esta produção da perspectiva técnica de poetas, músicos, pastores e teólogos. Esta proposta não descarta necessariamente a produção musical atual contato que esta se alinhe com a qualidade aplicada aos hinários. Não se joga a água suja junto com o bebê, mas a lógica de mercado a que a música evangélica tem vilmente se sujeitado não é correta e não deve fazer parte da dinâmica de nossas Igrejas.


A Igreja e a educação musical

A opção pelo repertório publicado em forma escrita, organizada em hinários, exige um conhecimento musical que a maioria de nós não têm, inclusive os músicos. Quem de nós tem condições de cantar uma música a primeira vista apenas tendo a música escrita à frente? Quero afirmar que este conhecimento é possível, que não é algo exclusivo daqueles que querem se profissionalizar na música e que este é o conhecimento pressuposto da publicação dos hinários. Por que um editor publicaria um livro cheio de poesias sacras com a partitura alinhada à cada sílaba? Para que estas músicas sejam cantadas. E como estas músicas serão cantadas se as pessoas não souberem ler a pauta musical?


Deste modo, nossas Igrejas e nosso país necessitam de um programa sério de educação. Enquanto nossos músicos e nossos pastores apenas conseguirem aprender músicas por imitação, estaremos à mercê de uma contracultura que se representa por mídias acessíveis que carregam qualidade duvidosa. Carecemos de exemplos de boa música cristã, porque não estamos mais formando bons músicos cristãos, em música e em teologia. Usar então as mídias hodiernas que publicarão a boa música será a parte fácil.


Finale

A música é uma linguagem. Ele é composta de signos que representam significados de modo complexo e intrincado. O relacionamento da música com a Igreja e a adoração sempre foi polêmico e difícil de resolver. Parte do problema é criada, porque linguagens são dinâmicas, elas mudam com o passar do tempo à luz de uma quantidade enorme de variáveis. O problema também é criado por causa da subjetividade envolvida no assunto. Como a música tem o poder de mexer com nossas almas, quando uma música de que eu gosto é questionada ou quando uma música de que eu não gosto é utilizada, o que é primeiramente sentida é uma ofensa pessoal e não uma quebra de princípio bíblico ou doutrinário. É inevitável haver discussão, polêmicas e questionamentos e até positivo quando estas nos forçam a refletir sobre o assunto, com base em estudo bíblico e teológico, não simples divisão e promoção pessoal.


Não há, portanto, uma fórmula musical pronta, a não ser que queiramos usar o mesmo estilo musical para sempre. Se adotássemos a música da Igreja Primitiva nos nossos dias, acharíamos esta música muito estranha, inclusive inapropriada. Devemos, a cada virada de século, reformular os nossos padrões musicais, continuando a seguir os mesmos princípios bíblicos, mas contextualizando esses padrões musicais a sua época. "Como esta reformulação será feita?" – é a grande questão.


Uma orientação aqui para responder esta pergunta não realiza todo o doloroso processo, porque todo o processo envolve resolver questões que só as pessoas daquela época podem saber. As orientações, entretanto, são necessárias. Precisamos, primeiro, estudar as Escrituras para encontrar os princípios bíblicos que norteiem nossa adoração e nossa música. Segundo, precisamos de pessoas preparadas em música e teologia que formulem padrões musicais adequados e produzam boa música a partir daqueles padrões. Terceiro, devemos investir institucionalmente na educação musical e na publicação de música digna utilizando as novas mídias, mais rápidas e eficientes.


Que nos auxilie a vencer os desafios musicais e institucionais da música na Igreja!


Autor: Pr. renato Brito
Igreja Batista Regular de Novo Juazeiro

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