sexta-feira, 4 de junho de 2010

A Música, os Ritmos e os Instrumentos


Terceira parte
Conselhos litúrgicos e musicais para Igreja no tempo pós-moderno

A Igreja e o repertório musical

Existe uma narrativa que explica a vida e a História. Há padrões de beleza absolutos que estão além da linguagem e refletem a grandeza e a sabedoria de Deus que criou todas as coisas. Deste modo, há música boa e música ruim num sentido ético e num sentido estético. A música que se propõe às Igrejas evangélicas da atualidade é definida pela lógica do mercado, possui mensagem diluída, aceitável a uma gama enorme de clientes, cada vez menos exigentes. As formatações e métodos dessa música não diferem nada das formatações e métodos utilizados na música secular, cujo propósito infame tem se resumido a lançar um produto atraente, vendável, de fácil acesso e impressionante.


Tenho notado que, num processo mais lento do que o acontecido nas Igrejas Renovadas, Igrejas e crentes têm utilizado a produção musical desta linha. À luz da abertura de certos precedentes, mais e mais se têm cantado em Igrejas Batistas Regulares as músicas de Aline Barros, Kleber Lucas, Cassiane e Oficina G3. Em famílias de Igrejas Batistas Regulares, no aniversário das crianças, ao invés de Romilda, ouve-se Ana Paula Valadão e Cristina Mel, que replicaram os mesmos padrões musicais que escandalizaram famílias brasileiras nos programas infantis da década 1980.


Proponho que utilizemos como fonte de repertório musical para os cultos as músicas publicadas em hinários. Os hinários são organizados por doutrina, preservam o melhor da produção hinológica de diversas épocas e revisam esta produção da perspectiva técnica de poetas, músicos, pastores e teólogos. Esta proposta não descarta necessariamente a produção musical atual contato que esta se alinhe com a qualidade aplicada aos hinários. Não se joga a água suja junto com o bebê, mas a lógica de mercado a que a música evangélica tem vilmente se sujeitado não é correta e não deve fazer parte da dinâmica de nossas Igrejas.


A Igreja e a educação musical

A opção pelo repertório publicado em forma escrita, organizada em hinários, exige um conhecimento musical que a maioria de nós não têm, inclusive os músicos. Quem de nós tem condições de cantar uma música a primeira vista apenas tendo a música escrita à frente? Quero afirmar que este conhecimento é possível, que não é algo exclusivo daqueles que querem se profissionalizar na música e que este é o conhecimento pressuposto da publicação dos hinários. Por que um editor publicaria um livro cheio de poesias sacras com a partitura alinhada à cada sílaba? Para que estas músicas sejam cantadas. E como estas músicas serão cantadas se as pessoas não souberem ler a pauta musical?


Deste modo, nossas Igrejas e nosso país necessitam de um programa sério de educação. Enquanto nossos músicos e nossos pastores apenas conseguirem aprender músicas por imitação, estaremos à mercê de uma contracultura que se representa por mídias acessíveis que carregam qualidade duvidosa. Carecemos de exemplos de boa música cristã, porque não estamos mais formando bons músicos cristãos, em música e em teologia. Usar então as mídias hodiernas que publicarão a boa música será a parte fácil.


Finale

A música é uma linguagem. Ele é composta de signos que representam significados de modo complexo e intrincado. O relacionamento da música com a Igreja e a adoração sempre foi polêmico e difícil de resolver. Parte do problema é criada, porque linguagens são dinâmicas, elas mudam com o passar do tempo à luz de uma quantidade enorme de variáveis. O problema também é criado por causa da subjetividade envolvida no assunto. Como a música tem o poder de mexer com nossas almas, quando uma música de que eu gosto é questionada ou quando uma música de que eu não gosto é utilizada, o que é primeiramente sentida é uma ofensa pessoal e não uma quebra de princípio bíblico ou doutrinário. É inevitável haver discussão, polêmicas e questionamentos e até positivo quando estas nos forçam a refletir sobre o assunto, com base em estudo bíblico e teológico, não simples divisão e promoção pessoal.


Não há, portanto, uma fórmula musical pronta, a não ser que queiramos usar o mesmo estilo musical para sempre. Se adotássemos a música da Igreja Primitiva nos nossos dias, acharíamos esta música muito estranha, inclusive inapropriada. Devemos, a cada virada de século, reformular os nossos padrões musicais, continuando a seguir os mesmos princípios bíblicos, mas contextualizando esses padrões musicais a sua época. "Como esta reformulação será feita?" – é a grande questão.


Uma orientação aqui para responder esta pergunta não realiza todo o doloroso processo, porque todo o processo envolve resolver questões que só as pessoas daquela época podem saber. As orientações, entretanto, são necessárias. Precisamos, primeiro, estudar as Escrituras para encontrar os princípios bíblicos que norteiem nossa adoração e nossa música. Segundo, precisamos de pessoas preparadas em música e teologia que formulem padrões musicais adequados e produzam boa música a partir daqueles padrões. Terceiro, devemos investir institucionalmente na educação musical e na publicação de música digna utilizando as novas mídias, mais rápidas e eficientes.


Que nos auxilie a vencer os desafios musicais e institucionais da música na Igreja!


Autor: Pr. renato Brito
Igreja Batista Regular de Novo Juazeiro

A Música, os Ritmos e os Instrumentos


Segunda Parte
Influências sobre o jovem músico

O que estas mudanças fizeram com a vida de um jovem músico das Igrejas Batistas Regulares do Brasil? Muito mais do que se pode imaginar.


Se grande parte das Igrejas Evangélicas Brasileiras estão sofrendo a influência da Renovação Carismática, estão crescendo e reformulando seus paradigmas artísticos e litúrgicos, tendo a música como principal difusora desta velha doutrina e nova prática, o jovem músico será fortemente assediado a deixar de lado os hinos tradicionais, ligados à denominação por laços institucionais e pastorais, para utilizar um novo formato musical, um novo repertório, não ditado pelas Igrejas Batistas Regulares nem pelos seus pastores, mas pela mídia evangélica.


Lembro da primeira vez que fui escolhido para ser diretor de música de um acampamento de jovens. Contava 14 anos. Mandei as letras dos cânticos para o pastor diretor de programação, tendo ensaiado com alguns amigos as músicas que iríamos ensinar naquela semana. Quando cheguei ao acampamento e vi o folder que o diretor tinha publicado, notei que nenhuma das músicas que eu tinha escolhido estava ali. "Que mal havia naquelas músicas? Todo mundo já conhecia e já estava cantando!" – racionalizei minhas escolhas mais afinadas com os novos estilos. A razão apresentada pelo pastor para mim, que agora teria que aprender todo o repertório de novo, em poucas horas, foi que as músicas que eu escolhi não tinham a ver com o nosso movimento. Imagine a frustração para aquele adolescente. Uma frustração com duas vias: a frustração de não merecer a confiança aparentemente depositada e a frustração de não atender aos anseios dos seus amigos por deixar de ter esta ou aquela música sendo cantada na programação que enfim dirige. Não fui vítima passiva de uma ordem estabelecida para me engodar, mas fiz-me vítima pelas escolhas que fiz, tentando agradar uma platéia, mais e mais acostumada com ritmos e melodias provenientes de artistas evangélicos conhecidos. Hoje, a atração que o jovem músico de nossas Igrejas sente para os atuais estilos e performances musicais é muito maior, e os estilos estão cada vez mais secularizados.


Se as grandes narrativas e as instituições perderam o valor para o homem pós-moderno e a informação tem o poder de se disponibilizar de modo mais rápido e mais opressor, o jovem músico cristão tem acesso a vídeos, músicas, partituras e cifras dos mais recentes "sucessos", antes deles serem oficialmente lançados, três anos antes de seus pastores saberem que aquele grupo musical existe.


O processo de publicação era mais lento. Alguém escrevia a letra, alguém punha uma melodia, outro harmonizava, outro editava, outro publicava, o responsável pela música aprendia (a esposa organista do pastor), o pastor ensinava, a Igreja aprendia e as famílias cantavam em casa. Hoje eu posso improvisar uma composição filmando-a no computador, carregar esta música num sítio eletrônico, ser visto por alguém passeando nas ruas de Tókio do celular deste uma hora depois e semana que vem ser uma celebridade de um programa de televisão bem assistido da TV aberta, por conta da quantidade de acessos que aquele meu vídeo tiver.


As fronteiras do mundo que vivemos estão diluídas e os padrões de espaço tempo com que nossos pais se acostumaram são outros. Penso ser definitivamente impossível conter a influência das mídias que estão aí e que vamos precisar lidar com esta influência, seja utilizando delas seja preparando cristãos com consciência crítica fundamentada nas Escrituras para contestar esta influência.


Outro problema. Se vivemos num país democrático, em que a censura artística foi abolida, e o cidadão brasileiro vive numa crescente conscientização de direitos, será cada vez mais difícil restringir o repertório musical em nossas igrejas, será mais difícil conter os levantes que reivindicam a utilização de estilos mais comerciais e será cada vez mais difícil manter as formas mais tradicionais de culto. Num país em que uma estudante é eleita como mártir pela mídia, por ter sido punida por uma instituição de ensino, em razão da vestimenta inadequada que ela utilizava, não devemos espantar a revolta de famílias, grupos da mocidade e até de líderes de nossas igrejas, quando argumentamos dos púlpitos que não podemos usar a música de certo grupo.


Lembro da visita que fiz a um jovem. Dentro da casa dele já estava um amigo seu que é membro de uma Igreja Batista Regular. Notei que este amigo estava acessando o site de um grupo evangélico musical, cuja doutrina e prática não se alinham com a sã doutrina. Em tom de brincadeira, comecei a alertar este jovem, achando que, pelo menos, chamaria este jovem a usar a consciência. A resposta dele foi esclarecedora: "Tome cuidado, pastor! Não se pode falar assim, desse jeito!".


O que interpretei desta fala foi que ele não via as heresias e os desvios comportamentais que eu via nesse grupo e que ele estava tão convencido da autenticidade do grupo que achava que eu poderia ser castigado por Deus se insistisse em falar mal de pessoas que estavam tão comprometidas. Houve um tempo em que pastores falavam e a palavra deles tinha peso de lei. Este tempo parece ter passado.


Com estas considerações iniciais proponho descrever nosso contexto histórico, tendo iniciado pela experiência pessoal. Ressalto que, na descrição destas mudanças, não estou emitindo nenhum juízo a respeito do assunto, aguardando responder as perguntas levantadas sobre essas questões no fim do processo. Neste momento, irei procurar definir a música os ritmos e esboçar uma classificação razoável dos instrumentos musicais na cultura geral e nas Escrituras. Neste momento, também irei relacionar estas três grandezas (música, ritmo e instrumentos) à realidade musical de nossas Igrejas, citando alguns conceitos teológicos pertinentes às polêmicas levantadas nestas áreas.


Vou começar cantando:





O que é música?

Música é "a arte de combinar bem os sons de modo estético e lógico". Enquanto o material do pintor é a cor e o material do escultor é a forma, o material do músico é o som relacionado ao tempo. Se compararmos as músicas produzidas de lugares diferentes, épocas diferentes, grupos sociais diferentes e pessoais diferentes, chegaremos a simples conclusão de que a música é fruto de uma série de fatores que envolvem História, cosmovisão, disponibilidade de recursos, religião, inteligência pessoal e coletiva e mais uma quantidade imensurável de variáveis. A música moderna ocidental compreendida no estilo do classicismo (1750 a 1810), utiliza doze sons diferentes, num intervalo de notas com freqüências divisíveis por dois (e.g., 440hz e 220hz), separados pelo mesmo intervalo sonoro, o semitom. A música turca, para citar um dos exemplos mais esdrúxulos, divide um tom inteiro em quatro partes, mas não por igual, e os turcos conseguem cantar aquela divisão precisamente.


A música que acabamos de cantar está um pouco distante da nossa realidade. Ela foi escrita nos primeiros anos da Reforma Luterana, num tempo que não havia a marcação de tempo das músicas que as nossas Igrejas estão acostumadas a ouvir e a cantar. Antes, especialmente na música eclesiástica, não se contava Um-dois-três-quatro, acentuando um tempo forte, que hoje é considerado um movimento compatível ao ritmo natural do nosso corpo, o ritmo das batidas do nosso coração. Não nego que haja músicas que agridem o nosso ritmo natural, mas afirmo que a nossa música estritamente marcada seria considerada mundana para a maior parte dos cristãos dos primeiros anos da Reforma, no século XVI. Qualquer marcação rítmica estava ligada ao corpo e o corpo, como também entendemos, não tem primazia no ato de adoração, apesar de estar naturalmente e não pecaminosamente envolvido nele. Posso afirmar, portanto, que o ritmo, a marcação do compasso, foi sacralizada lentamente, através dos séculos, e até considerada uma expressão da alegria cristã.


Os primeiros missionários congregacionais no Brasil, Robert e Sarah Kalley, responsáveis pela publicação do primeiro Hinário, o Salmos e Hinos, tiveram grande preocupação em fazer com que o povo cantasse num ritmo mais marcado, em contraste ao canto das ladainhas e dos benditos próprios da cultura tradicional católica no Brasil. Eles se ressentiam de não terem alcançado o ritmo adequado dos hinos da reforma, mesmo tendo iniciado aulas de música na Escola Dominical com este fim.


Os elementos da música e sua relação com a adoração

Os teóricos da música dividem a música em seis elementos formadores: melodia, harmonia, ritmo, textura, timbre e forma. Esses elementos se fundem e são organizados de um determinado modo para constituir o que chamamos estilo musical. De acordo com Roy Bennet, às vezes um elemento se sobrepõe a outro num determinado estilo musical ou até se ausenta, deliberadamente ou não, mas geralmente todos os estilos musicais, independente do tempo, do lugar e da cultura em que foram criados, possuem uma combinação dos seis elementos, determinada pela mente, pela experiência, pelos sentimentos e pelas escolhas dos compositores.


Melodia

A melodia é uma sucessão de notas tocadas em tempos diferentes que formam, na maior parte das vezes, a idéia principal de uma composição. Mesmo que haja uma grande variedade de sons tocados ao mesmo tempo por instrumentos diversos, haverá sempre uma linha de pensamento musical que guia a peça, colocada de modo geral na voz mais aguda. Mesmo que se ouça um coral cantando a quatro vozes o hino Castelo Forte, acompanhado por um grupo instrumental, ainda se destacará o que chamamos melodia.


Ritmo

O ritmo é o tempo em que a música vai, a pulsação marcada dos sons ou silêncios que uma música tem. Dá-se o nome ritmo às células temporais que definem o movimento de um estilo, como o ritmo da valsa, da polca, do bolero, do tango, do samba, etc. Deve-se dizer, entretanto, que o ritmo é, tecnicamente, a batida que regula aquele estilo. Isto quer dizer que um estilo musical não é constituído apenas com o seu ritmo, mas que o ritmo é apenas um de seus componentes. O estilo musical brasileiro chamado chorinho possui o ritmo do samba canção; uma melodia complexa e instrumental; os timbres de um violão de sete cordas, de um violão de seis cordas, de um pandeiro, de um cavaquinho e de uma flauta transversa; uma estrutura conhecida por rondó; preferências por acordes mais fortes e um rigoroso entrelaçamento destes componentes.


Harmonia

Além do ritmo, compõe um estilo musical a harmonia. Este elemento é construído com a combinação de notas tocadas ao mesmo tempo. Estas combinações têm nomes próprios e possuem funções muito bem definidas na harmonia da música moderna, a música do período Barroco (1600) até o período do Romantismo (1910). Podemos afirmar que a harmonia é o pano de fundo da melodia, podendo mudar o ambiente conforme as intenções do compositor. De modo geral, a harmonia que utilizamos é bem tradicional e bem simples, por influência da música popular de massa e pelo conhecimento acentuado que temos dos hinos de um período histórico da música sacra congregacional, que vai de 1850 a 1910, quando os compositores de hinos preferiram usar harmonias menos intrincadas.


Timbre

O timbre é a cor do som. Mesmo que dois instrumentos musicais toquem a nota dó, nosso ouvido saberá diferenciar as particularidades deste mesmo som tocado por dois corpos diferentes que emitem sons por processos diferentes, mas que possuem a mesma freqüência. É possível afirmar que o timbre influi no significado da música. Quando um compositor deseja colocar o canto de um pássaro dentro de uma sinfonia, ele não utiliza o som de um contrabaixo, mesmo que o contrabaixo tenha condições de produzir um som numa altura relativamente aguda. O compositor vai preferir utilizar o som de uma flauta. Deste modo, podemos considerar que haverá certos instrumentos musicais, com o som bem característico, associados fortemente a um estilo musical, que não serão apropriados para adoração em nossas Igrejas, porque farão com que nossos adoradores brasileiros associem o som daquele instrumento com aquele estilo musical que representa um estilo de vida ou uma ideologia ou um comportamento ou uma religião contrária ao cristianismo reformado e congregacional. Posso citar dois exemplos para nossa época e para nosso povo: o berimbau e a cuíca. O primeiro está entranhado da capoeira e das religiões afro-brasileiras e o segundo, no seu timbre, está associado com brincadeira, a descontração e a sensualidade do samba.


Por outro lado, há instrumentos musicais extremamente ecléticos, por causa do seu uso e por causa da variedade de possibilidades sonoras que ele possui. O piano é um bom exemplo dessa versatilidade. Este instrumento tem 88 notas que podem ser tocadas em extrema variação de dinâmica, tempo, fraseado, técnicas e colocação, enquanto o berimbau, mesmo que tenha sido mostrado por muitos percussionistas a capacidade relativa do berimbau, este instrumento só tem uma corda só. Com o piano é possível tocar desde Johann Sebastian Bach até Naná Vasconcelos.


Forma e Textura

Outro elemento da música é a forma, o modo como uma música se organiza, ou seja, a sua estrutura. Se tudo na música for repetição, ela será monótona; se tudo for sempre novo, a música será ilógico e difícil de acompanhar. O hino que começamos a aprender tem a estrutura AAB, isto é, as duas primeiras frases musicais são as mesmas. Quando aquelas frases estão bem estabelecidas o autor muda para uma frase diferente que possui um final ligeiramente parecido com o final das duas primeiras frases. Os compositores costumam entender as formas musicais em que os outros compositores escreveram suas músicas e produzem obras com as mesmas formas. Alguém que queira compor música erudita hoje estudará as formas musicais conhecidas como sonata, sinfonia, suíte, fuga, variação, etc. Cada uma dessas formas musicais tem uma estrutura definida e, em determinadas épocas, são compostas num determinado estilo.


Geralmente ouve-se que Martinho Lutero utilizou músicas que eram cantadas em bares para colocar letras cristãs, tornando estas músicas mais acessíveis para o povo da Igreja. Um exame mais criterioso do método luterano de difusão da doutrina cristã através da música esclarecerá que o que Lutero utilizou foi uma forma de canção simples e umas poucas melodias folclóricas que nada tinham a ver com o pretenso mundanismo da afirmação. Ainda que tenha usado a forma, a estrutura, não utilizou o estilo e se aliou a grandes poetas e músicos do seu tempo como Josquin De Préz para publicar o hinário em que trabalhou. As músicas "Garota de Ipanema", de Tom Jobim e "Logo de Manhã" de Aristeu Pires tem a mesma forma, mas estilos completamente diferentes.


Textura é o elemento musical do arranjo, isto é, como estes elementos são entrelaçados.


Os Estilos Musicais e Algumas Polêmicas

A música que cantamos ("Eis que uma Rosa Surge") deu preferência à melodia. Ela possui uma marcação de tempo, mas esta marcação está diluída em favor da expressão melódica. Muitos livros que tratam de como a música deve ser utilizada na Igreja defendem este desequilíbrio, uma música mais melódica que rítmica. Noto, porém, que a música eminentemente melódica, sem acentuação rítmica, para maioria de nós, é estranha e até desagradável, por causa da música que nossa cultura tem produzido por séculos, por causa do estilo de vida moderno, sempre regulado por um tempo preciso e por causa da associação natural que fazemos entre o tempo marcado e a alegria. Aliás, quando estamos felizes, falamos mais rápido, usamos sons mais agudos e saltamos sonoramente com nossas palavras.


Outro fator muito importante na construção rítmica da nossa música é o fato de que somos brasileiros. Isso mesmo! Somos brasileiros. Estamos imersos numa cultura que possui uma variedade rítmica enorme, tanto de ritmos diferentes quando de instrumentos percussivos variados. No Brasil, para citar ritmos eminentemente brasileiros temos o samba , o xaxado, o batuque, o maracatu, o lundu, o carimbó, o xote, o baião, o forró, o frevo, a bossa-nova, a catira, a embolada, o axé, para citar apenas alguns deles, lembrando que estes ritmos e os estilos que eles acompanham têm uma série de vertentes e nuances regionais. Por exemplo, o maracatu cearense não é o mesmo ritmo do maracatu de Recife. Não estou afirmando que estes ritmos e seus estilos são corretos, estou afirmando que nós, como pastores não podemos tratá-los como se eles não existissem e devemos procurar responder à pertinente pergunta: "posso usar estes ritmos e estilos na adoração em Igrejas Batistas Regulares Brasileiras?"


Simplesmente afirmar, como alguns dos nossos livros e pastores afirmam, que eles não são apropriados, porque possuem uma síncope regular e a síncope regular é sensual, não é suficiente. Há muitas músicas da cultura erudita ocidental que possuem síncope regular e recorrente que, no meu ver, não são sensuais. É preciso formular uma análise mais criteriosa que leve em consideração todos os elementos musicais daquele estilo, a cosmovisão que o gerou, o contexto histórico, a situação social e antropológica.


Considero o rock'n'roll uma música inapropriada para o culto cristão por causa da síncope regular recorrente aliada a outros usos dos elementos musicais, que criam um estilo musical representante de uma visão de mundo não cristã. A visão de mundo do rock'n'roll é anarquista, é a favor da Revolução Sexual, projeta-se como uma opção aos valores cristãos, valores dentre os quais podemos citar: moral estabelecida e absoluta, primazia da família, autoridade divinamente instituída e diversão com responsabilidade. Para negar estes valores o rock utiliza as síncopes com que o ouvido Europeu está menos acostumado, como uma agressão ao ritmo ditado pelas obrigações de horário da fábrica da sociedade industrial e como um recurso para tornar a música excentricamente dançante. Para negar os valores cristãos, o rock introduz timbres ásperos na instrumentação, como os timbres das guitarras com distorção, as percussões fortíssimas do conjunto de bateria. Para negar os valores cristãos, o rock utiliza uma performance que visa enaltecer o homem e não Deus ou a arte, uma vez que o principal músico do conjunto, vocalista ou guitarrista, é sempre destacado pelas loucuras que faz, pela iluminação, pelo virtuosismo com que participa da apresentação.

Os instrumentos musicais

Já afirmei que o timbre de um instrumento musical possui significado. Dependendo do som que o instrumento produz, resultado da constituição do instrumento, do modo como a caixa de ressonância do instrumento faz o som do instrumento reverberar, o instrumento musical é classificado. Grosso modo, os instrumentos podem ser classificados no seguinte:


Cordofônicos – os que produzem som através da vibração de cordas, friccionadas, dedilhadas ou percutidas, cujos exemplos são o violino, o violão e o piano;

Aerofônicos – os que produzem som através da alteração de uma coluna de ar, cujo exemplo é os instrumentos de sopro, como as flautas e o órgão de tubos;

Idiofônicos – os que produzem som pela vibração de seus próprios corpos, não possuindo uma caixa de ressonância responsável por ampliar a vibração de outra parte do instrumento, cujo exemplo é os instrumentos de percussão, como os tambores, os sinos e o xilofone.

A utilização de instrumentos musicais depende de uma série de fatos. Depende do período histórico em que aflorou o uso daquele instrumento. A família das cordas, violino, viola, violoncelo e contrabaixo, instrumentos cordofônicos, são muito encontrados no período barroco (1600-1750), quando na Itália, famílias de artesãos passaram a construir estes instrumentos de modo mais técnico e eficiente. O período clássico (1750-1810) e o período romântico (1810-1917) viu crescer o uso dos instrumentos aerofônicos de metal como a flauta transversa, o trompete, o trombone e a tuba. A música moderna ou contemporânea (desde 1917) viu crescer a utilização dos instrumentos de percussão, os idiofônicos, por conta da busca dos compositores brasileiros por novos sons e possibilidades que não lembrassem o tradicionalismo dos períodos anteriores. Isto não quer dizer que os todos os tipos de instrumento não foram usados em todos os períodos, mas que o estilo e a formação do compositor influenciavam muito na escolha dos instrumentos.


Pensando na música da Igreja, a utilização de qualquer instrumento musical dependerá do estilo musical a ser adotado na Igreja. A polêmica da introdução da bateria, de outras percussões, da guitarra elétrica e do baixo elétrico, bem como do modo pelo qual estes instrumentos são utilizados, depende mais do estilo do que da introdução do instrumento musical em si. Como a bateria é utilizada num estilo musical não cristão, costumamos demonizá-la como se o instrumento em si pudesse desvirtuar a adoração cristã. A bateria ou um conjunto percussivo executado por um instrumentista pode ser utilizado em qualquer estilo musical, dos mais refinados aos mais populares. Deste modo, com o músico certo e o arranjo certo, um conjunto percussivo poderia ser usado em nossas igrejas sem impor nenhum estilo mundano aos nossos cultos.


Apesar de reconhecer isso como músico cristão, como batista regular penso que esta prática ainda criará mais problemas do que soluções. Lembro de que um músico muito bom da nossa Igreja me perguntou certa vez: "Quando nossa Igreja vai utilizar uma bateriazinha, hein pastor?". Minha resposta foi categórica: "Quando eu sair".


Sei por que respondi aquilo, depois de ter esboçado a opinião acima. A razão é simples. Quando a utilização de um instrumento musical for um item da implantação de um estilo musical mundano, o instrumento não deve ser utilizado. Na maior parte dos casos, quando a guitarra elétrica e a bateria foram utilizadas nas Igrejas Batistas Regulares que se renovaram da década de 1980 e 1990, foi para tocar rock'n'roll. Minha interpretação da pergunta do rapaz da minha Igreja foi essa. Uma opção plausível para introdução dos instrumentos percussivos em Igrejas de orientação fundamentalista seria as vias de estilos musicais mais sérios, ordenados e compatíveis com a formalidade do culto cristão.


Introduzir qualquer instrumento musical ao culto cristão não é obrigatório nem é condição sine qua non para adoração com cântico. Os proponentes do Princípio Regulador do Culto, herdeiro da tradição litúrgica originada em Calvino, defendem que os instrumentos musicais são proibidos no culto cristão, por fazerem parte da lei cerimonial da Antiga Aliança. Penso não ser possível defender esta posição, por causa da interpretação errônea empregada por esses teólogos de algumas passagens do Novo Testamento, alinhado pela chave hermenêutica da Teologia da Aliança. Para mim, a presença de instrumentos musicais no Apocalipse evidencia que o uso de instrumentos musicais no culto está além das fronteiras do Templo de Sombras, uma vez que eles estão presentes no Templo Celestial, de que o das Sombras é apenas figura.


Apesar disso, a adoração da Nova Aliança, a que deve ser realizada em espírito e em verdade, não deve utilizar estes recursos materiais como fonte de motivação, porque única e grande motivação é o Senhor que está sendo adorado. Achamos que um culto sem acompanhamento instrumental é desanimado. O que deveria animar o culto cristão não é o instrumento musical, mas a presença de Deus.


Utor: Pr. Renato Brito
Igreja Batista Regular de Juazeiro do Norte

terça-feira, 1 de junho de 2010

A Música, Os Ritmos e Os Instrumentos


Primeira parte

Fui criado numa Igreja Batista Regular na periferia da grande Belém, no município de Ananindeua, Estado do Pará. Não era filho de pastor nem fiz parte de uma família envolvida com a Igreja, mas de um lar de pessoas que tinham conhecimento bíblico e sofreu com um divórcio e o afastamento dos padrões bíblicos para família. Aos sete anos fiz minha decisão para servir a Cristo, aos 10 fui batizado, aos 14 entendi que Deus me estava chamando para o ministério e aos 19 ingressei como aluno do Seminário Batista do Cariri, escola da qual hoje sou professor. Assisti na família, na Igreja e no movimento Batista Regular a mudanças profundas que têm muito a ver com a palestra a que fui desafiado participar neste sábado, confiante em Deus que poderei tratar o assunto com o mínimo de propriedade, atendendo a algumas expectativas que a mim foram confiadas.


Na infância, ao andar sozinho de casa para a Igreja, uma caminhada de quase um quilômetro, sentia-me feliz, ao galgar os poucos metros que acessavam a entrada do templo até o segundo banco onde costumava sentar, ouvindo os acordes e a melodia do hino preferido da organista e minha primeira professora de música, a missionária Noemi Miranda dos Santos. Ela tocava "Tempo de ser Santo, tu deves tomar" e aquela música era como o som do céu, como se não houvesse mais um mundo cheio de pecado, como se houvesse esperança para um menino cheio de angústias e tantas questões insolúveis dentro d'alma. Ainda posso, ao fechar os olhos, ouvir o som daquela música, diferente de toda minha experiência pessoal, além de mim e inteiramente nova, um novo cântico, uma nova canção.


Naquele tempo, fim da década de 1980, nossa Igreja utilizava eminentemente o Cantor Cristão para adoração com música, apenas um órgão eletrônico acompanhava os hinos e alguns irmãos tocavam violão que acompanhava especiais individuais ou as programações da mocidade. Utilizávamos a música de algumas outras fontes. Tínhamos o Cânticos Alegres e o Melodias de Maranata, publicações da Editora Batista Regular; conhecíamos hinos da Harpa Cristã, hinos do Melodias de Vitória e canções de que não sabíamos a procedência.


Tive uma experiência musical naquela Igreja e entre as Igrejas Batistas Regulares do Estado do Pará muito intensa. Lembro que aprendi aos onze anos a tocar órgão e aos treze já acompanhava os hinos; aos quatorze cantava tenor no coral as relativamente complicadas cantatas de John W. Peterson e com a mesma idade tive aulas particulares de violão; aos dezesseis comecei a reger corais e, antes disso, já dirigia os hinos e cânticos congregacionais. Antes de sair daquela Igreja para vir ao Seminário, comecei a compor e algumas músicas minhas aquela Igreja e movimento conhecem. Toda base do meu aprendizado musical se deu naquela Igreja e não estaria falando sobre o assunto se não fosse aquele aprendizado.


Lembro como cheguei a fazer parte de um quarteto vocal na Igreja. Era composto do pastor e a esposa dele, da missionária e eu. Podíamos ensaiar, à primeira vista, um hino depois da EBD e o mesmo ficar pronto para o culto à noite. Isto não demonstra o talento dos seus componentes, mas a cultura musical que uma Igreja tradicional podia ter antes das mudanças. Cantar a quatro vozes não é fácil. Exige leitura, percepção e experiência musical. A esposa do pastor e ele costumavam disputar quem conhecia mais hinos. Só valiam para disputa os hinos cantados sem erros e que tivessem a letra memorizada. Quantos casais das nossas Igrejas podem fazer isso hoje? Quantos quartetos a quatro vozes há em nosso movimento? Quantos corais locais podem ensaiar cantatas de John Peterson e quantos regentes existem em nossas Igrejas que tenham condições de digerir esse repertório, sendo aptos para transmiti-lo a grupos vocais formados em nossas Igrejas?


Na Igreja em que trabalho hoje como ministro de música, a Igreja Batista Regular do Novo Juazeiro, privilegiada por uma boa estrutura eclesiástica, que inclui um programa de educação musical, e privilegiada pela presença de bons músicos, o acompanhamento instrumental é feito por um piano, dois violões, um baixo elétrico, duas flautas doces e uma flauta transversa nos domingos à noite. A congregação não é mais dirigida por um só regente, mas por um grupo de louvor. Insistimos em cantar músicas do Cantor Cristão, mas achamos importante utilizar músicas publicadas em hinários mais recentes, como o Hinário para o Culto Cristão e o Voz de Melodia. Utilizamos também músicas provenientes de grupos musicais e cantores evangélicos que surgiram no fim do século passado, acreditando que estas músicas não ferem os princípios bíblicos da adoração que honra a Deus nem pelo conteúdo que estas músicas possuem nem pela forma com que estas músicas são tocadas, considerando o estilo destas músicas, a nossa interpretação delas e as pessoas que produziram originalmente estas músicas.


Apesar disso, reconheço que muitas músicas que utilizamos em nossa Igreja Batista Regular hoje seriam proibidas na minha Igreja Batista Regular de ontem. Reconheço que o baixo elétrico comprado recentemente por nossa Igreja, a sugestão do ministro de música, não seria aceito nas nossas reuniões de adoração. Ainda assim considerado não estar errada a decisão da Igreja de usar esta formação musical e este repertório. A pergunta que se insurge é óbvia: Por quê? Estávamos errados antes e agora estamos certos? Estávamos certos antes e agora estamos errados tendo sofrido um processo de mundanização O que mudou nestes 20 anos de História que faz com que uma Igreja tradicional escolha mudar um pouco a roupagem da sua música, entendo que certo padrão musical, considerado errado num dado momento, passe a ser considerado correto num outro momento?


Gostaria de defender que, nestes 20 anos, houve drásticas mudanças no cenário mundial, nacional e evangélico. Um entendimento da música e dos instrumentos, tanto na cultura geral como nas Escrituras nos esclarecerá que as escolhas que nos levaram a uma abertura nas Igrejas tradicionais para um novo repertório e para a utilização de novos instrumentos musicais não foram erradas. Além disso, um posicionamento mais equilibrado da música na Igreja, ainda que seja um posicionamento mais difícil, isto é, um posicionamento que leva em consideração as mudanças culturas, fazendo certas concessões artísticas, sem abrir as portas da Igreja para a entrada do pecado dentro do culto cristão, é o posicionamento que melhor se alinha com os dados bíblicos e a utilização adequada da música, dos ritmos e dos instrumentos musicais na Igreja de Deus


As mudanças

No início da década de 1990, o movimento Batista Regular no estado do Pará sofreu varredura da auto denominada Renovação Carismática. A terceira onda atingiu todas as denominações tradicionais pentecostais e não pentecostais gerando dois tipos novos de evangélicos: os neo-evangélicos e os neo-pentecostais.


Os primeiros são os evangélicos que não tem uma postura rigorosa com respeito da fé e da prática cristã, envolvendo-se nos programas de crescimento da Igreja. Os neo-evangélicos podem se envolver com evangelho social, ecumenismo e tentam contextualizar a sua mensagem, buscando uma atualização do discurso e da conduta.


Os neo-pentecostais são mais espiritualistas. Estão envolvidos com os pressupostos da doutrina pentecostal, mas dispensam o legalismo comportamental próprio das denominações pentecostais tradicionais como Assembléia de Deus, Congregação Cristã do Brasil e Igreja do Evangelho Quadrangular. Os neo-pentecostais têm a tendência de retornar a simbologia do Antigo Testamento na liturgia e utilizam óleo, água, datas festivas, etc. Estes dois grupos dissidentes das Igrejas evangélicas tradicionais fizeram uma grande transformação na música e na forma de culto de grande parte das Igrejas Cristãs Brasileiras e o produto musical destes grupos não limitados a fronteiras institucionais é a maior preocupação deste opúsculo.


Duas outras fortes mudanças aconteceram nos fins dos 1980 e os inícios dos 1990. A primeira global e a segunda nacional. Em 1991, de acordo com a análise do historiador Erick Hobsbawm, encerrou-se o breve século XX, cujo início se deu em 1914. De acordo com este historiador, que traça os ciclos históricos através da categorização interpretativa, o século XX começou com a Primeira Guerra mundial em 1914 e terminou com o fim da União Soviética em 1991.


O século XX foi marcado por guerras nunca vistas e pela partição do mundo em dois grandes blocos econômicos, políticos e ideológicos: o bloco comunista e o bloco capitalista. Tudo poderia ser explicado pela atração ou repulsa destes dois grandes pólos que viveram sempre em intenso conflito, ainda que não fosse armado. Quem resolve melhor seus problemas sociais? Quem alcança maior avanço tecnológico? Quem espalha por mais países do mundo a sua influência? Quem chega primeiro a Lua? Estas eram as perguntas recorrentes do século XX feitas às nações e aos principais líderes do século: os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Soviéticas. Deste modo, havia duas maneiras de se explicar a vida, relativamente simples e bem resolvidas para os seus proponentes. Ou cristão ou ateu, ou individualista ou corporativista, ou democrático ou totalitário, ou capitalista ou socialista, ou vários ou um partido, ou azul ou vermelho, ou direita ou esquerda, bem como outras opções dualistas eram dadas ao cidadão do século XX.


Quando o bloco comunista ruiu e o ideal estadunidense se mostrou impossível de ser alcançado pelos países que a ele se alinharam, as grandes ideologias caíram em descrédito. Com esta queda, tudo que a estas ideologias estava equivocadamente relacionado também caiu em descrédito. Surge então a chamada pós-modernidade, caracterizada pela globalização, pela descrença nas grandes narrativas e instituições tradicionais, pela elevação do sujeito-indivíduo como fonte da verdade, pela filosofia pós-estruturalista que explica a realidade pelas relações da linguagem, pela elevação das ciências e mecanismos de informação e valorização da imagem em detrimento da essência, da oralidade e da escrita.


A pós-modernidade tem relação direta com a música evangélica dos nossos dias, 20 anos após o nascimento da pós-modernidade, como destaca MENDONÇA:


Os sinais da pós-modernidade, percebidos nas mais distintas áreas da sociedade, também se revelam no campo religioso, mais precisamente na moderna canção religiosa, a canção gospel, a qual, se ainda permanece como grande divulgadora da mensagem religiosa tradicional, também expressa uma integração cada vez maior não somente aos estilos musicais populares mais atuais como também aos modelos de performance vocal e visual e às estratégias de marketing consolidadas pela indústria da música popular.


Mídia impressa, internet, programas de rádio e TV, enfim, os veículos de comunicação de uma forma geral, têm sido utilizados pelos evangélicos para a divulgação da música gospel. Um olhar mais atento pode perceber que a integração dos músicos cristãos na modernidade, em especial, dos músicos neopentecostais, tem sido marcada pela adoção de gêneros musicais de sucesso popular, como o funk, o reggae, o forró, o pagode. Esses estilos são introduzidos pela renovação musical cristã, que se sustenta tanto na sacralização de gêneros musicais nacionais quanto nas tendências musicais populares de massa, estrangeiras ou não, em um processo que acompanha a globalização, a diversidade e o pluralismo da sociedade pós-moderna.


A mudança nacional aconteceu na consolidação do processo democrático, que pôs fim a um período de 26 anos de ditadura militar, cuja principal justificativa era conter a ameaça comunista no Brasil. Em 1989, foi eleito o primeiro presidente da República do Brasil por voto direto desde 1964, depois de ter sido promulgada a Constituição de 1988, que dava plenos direitos de liberdade política e religiosa aos cidadãos brasileiros, não importando as matizes de raça, cor, sexo e classe social. A década de 1990 conheceu um crescimento sem precedentes dos que se denominam evangélicos. Entre 1996 a 2007, só os evangélicos pentecostais passaram de 11% para 17% da população brasileira. Além desses novos tons no quadro nacional, houve na década de 1990 a ascensão da economia neoliberal no Brasil, que se evidenciou de modo mais contundente na privatização de empresas estatais e na maior abertura para comercialização de produtos importados no Brasil.

Autor: Pr. Carlos Renato / Igreja Batista Regular de Novo Juazeiro
Material apresentado na Primeira Clínica para pastores em Fortaleza – CE, dia 15 de maio de 2010