sexta-feira, 4 de junho de 2010

A Música, os Ritmos e os Instrumentos


Segunda Parte
Influências sobre o jovem músico

O que estas mudanças fizeram com a vida de um jovem músico das Igrejas Batistas Regulares do Brasil? Muito mais do que se pode imaginar.


Se grande parte das Igrejas Evangélicas Brasileiras estão sofrendo a influência da Renovação Carismática, estão crescendo e reformulando seus paradigmas artísticos e litúrgicos, tendo a música como principal difusora desta velha doutrina e nova prática, o jovem músico será fortemente assediado a deixar de lado os hinos tradicionais, ligados à denominação por laços institucionais e pastorais, para utilizar um novo formato musical, um novo repertório, não ditado pelas Igrejas Batistas Regulares nem pelos seus pastores, mas pela mídia evangélica.


Lembro da primeira vez que fui escolhido para ser diretor de música de um acampamento de jovens. Contava 14 anos. Mandei as letras dos cânticos para o pastor diretor de programação, tendo ensaiado com alguns amigos as músicas que iríamos ensinar naquela semana. Quando cheguei ao acampamento e vi o folder que o diretor tinha publicado, notei que nenhuma das músicas que eu tinha escolhido estava ali. "Que mal havia naquelas músicas? Todo mundo já conhecia e já estava cantando!" – racionalizei minhas escolhas mais afinadas com os novos estilos. A razão apresentada pelo pastor para mim, que agora teria que aprender todo o repertório de novo, em poucas horas, foi que as músicas que eu escolhi não tinham a ver com o nosso movimento. Imagine a frustração para aquele adolescente. Uma frustração com duas vias: a frustração de não merecer a confiança aparentemente depositada e a frustração de não atender aos anseios dos seus amigos por deixar de ter esta ou aquela música sendo cantada na programação que enfim dirige. Não fui vítima passiva de uma ordem estabelecida para me engodar, mas fiz-me vítima pelas escolhas que fiz, tentando agradar uma platéia, mais e mais acostumada com ritmos e melodias provenientes de artistas evangélicos conhecidos. Hoje, a atração que o jovem músico de nossas Igrejas sente para os atuais estilos e performances musicais é muito maior, e os estilos estão cada vez mais secularizados.


Se as grandes narrativas e as instituições perderam o valor para o homem pós-moderno e a informação tem o poder de se disponibilizar de modo mais rápido e mais opressor, o jovem músico cristão tem acesso a vídeos, músicas, partituras e cifras dos mais recentes "sucessos", antes deles serem oficialmente lançados, três anos antes de seus pastores saberem que aquele grupo musical existe.


O processo de publicação era mais lento. Alguém escrevia a letra, alguém punha uma melodia, outro harmonizava, outro editava, outro publicava, o responsável pela música aprendia (a esposa organista do pastor), o pastor ensinava, a Igreja aprendia e as famílias cantavam em casa. Hoje eu posso improvisar uma composição filmando-a no computador, carregar esta música num sítio eletrônico, ser visto por alguém passeando nas ruas de Tókio do celular deste uma hora depois e semana que vem ser uma celebridade de um programa de televisão bem assistido da TV aberta, por conta da quantidade de acessos que aquele meu vídeo tiver.


As fronteiras do mundo que vivemos estão diluídas e os padrões de espaço tempo com que nossos pais se acostumaram são outros. Penso ser definitivamente impossível conter a influência das mídias que estão aí e que vamos precisar lidar com esta influência, seja utilizando delas seja preparando cristãos com consciência crítica fundamentada nas Escrituras para contestar esta influência.


Outro problema. Se vivemos num país democrático, em que a censura artística foi abolida, e o cidadão brasileiro vive numa crescente conscientização de direitos, será cada vez mais difícil restringir o repertório musical em nossas igrejas, será mais difícil conter os levantes que reivindicam a utilização de estilos mais comerciais e será cada vez mais difícil manter as formas mais tradicionais de culto. Num país em que uma estudante é eleita como mártir pela mídia, por ter sido punida por uma instituição de ensino, em razão da vestimenta inadequada que ela utilizava, não devemos espantar a revolta de famílias, grupos da mocidade e até de líderes de nossas igrejas, quando argumentamos dos púlpitos que não podemos usar a música de certo grupo.


Lembro da visita que fiz a um jovem. Dentro da casa dele já estava um amigo seu que é membro de uma Igreja Batista Regular. Notei que este amigo estava acessando o site de um grupo evangélico musical, cuja doutrina e prática não se alinham com a sã doutrina. Em tom de brincadeira, comecei a alertar este jovem, achando que, pelo menos, chamaria este jovem a usar a consciência. A resposta dele foi esclarecedora: "Tome cuidado, pastor! Não se pode falar assim, desse jeito!".


O que interpretei desta fala foi que ele não via as heresias e os desvios comportamentais que eu via nesse grupo e que ele estava tão convencido da autenticidade do grupo que achava que eu poderia ser castigado por Deus se insistisse em falar mal de pessoas que estavam tão comprometidas. Houve um tempo em que pastores falavam e a palavra deles tinha peso de lei. Este tempo parece ter passado.


Com estas considerações iniciais proponho descrever nosso contexto histórico, tendo iniciado pela experiência pessoal. Ressalto que, na descrição destas mudanças, não estou emitindo nenhum juízo a respeito do assunto, aguardando responder as perguntas levantadas sobre essas questões no fim do processo. Neste momento, irei procurar definir a música os ritmos e esboçar uma classificação razoável dos instrumentos musicais na cultura geral e nas Escrituras. Neste momento, também irei relacionar estas três grandezas (música, ritmo e instrumentos) à realidade musical de nossas Igrejas, citando alguns conceitos teológicos pertinentes às polêmicas levantadas nestas áreas.


Vou começar cantando:





O que é música?

Música é "a arte de combinar bem os sons de modo estético e lógico". Enquanto o material do pintor é a cor e o material do escultor é a forma, o material do músico é o som relacionado ao tempo. Se compararmos as músicas produzidas de lugares diferentes, épocas diferentes, grupos sociais diferentes e pessoais diferentes, chegaremos a simples conclusão de que a música é fruto de uma série de fatores que envolvem História, cosmovisão, disponibilidade de recursos, religião, inteligência pessoal e coletiva e mais uma quantidade imensurável de variáveis. A música moderna ocidental compreendida no estilo do classicismo (1750 a 1810), utiliza doze sons diferentes, num intervalo de notas com freqüências divisíveis por dois (e.g., 440hz e 220hz), separados pelo mesmo intervalo sonoro, o semitom. A música turca, para citar um dos exemplos mais esdrúxulos, divide um tom inteiro em quatro partes, mas não por igual, e os turcos conseguem cantar aquela divisão precisamente.


A música que acabamos de cantar está um pouco distante da nossa realidade. Ela foi escrita nos primeiros anos da Reforma Luterana, num tempo que não havia a marcação de tempo das músicas que as nossas Igrejas estão acostumadas a ouvir e a cantar. Antes, especialmente na música eclesiástica, não se contava Um-dois-três-quatro, acentuando um tempo forte, que hoje é considerado um movimento compatível ao ritmo natural do nosso corpo, o ritmo das batidas do nosso coração. Não nego que haja músicas que agridem o nosso ritmo natural, mas afirmo que a nossa música estritamente marcada seria considerada mundana para a maior parte dos cristãos dos primeiros anos da Reforma, no século XVI. Qualquer marcação rítmica estava ligada ao corpo e o corpo, como também entendemos, não tem primazia no ato de adoração, apesar de estar naturalmente e não pecaminosamente envolvido nele. Posso afirmar, portanto, que o ritmo, a marcação do compasso, foi sacralizada lentamente, através dos séculos, e até considerada uma expressão da alegria cristã.


Os primeiros missionários congregacionais no Brasil, Robert e Sarah Kalley, responsáveis pela publicação do primeiro Hinário, o Salmos e Hinos, tiveram grande preocupação em fazer com que o povo cantasse num ritmo mais marcado, em contraste ao canto das ladainhas e dos benditos próprios da cultura tradicional católica no Brasil. Eles se ressentiam de não terem alcançado o ritmo adequado dos hinos da reforma, mesmo tendo iniciado aulas de música na Escola Dominical com este fim.


Os elementos da música e sua relação com a adoração

Os teóricos da música dividem a música em seis elementos formadores: melodia, harmonia, ritmo, textura, timbre e forma. Esses elementos se fundem e são organizados de um determinado modo para constituir o que chamamos estilo musical. De acordo com Roy Bennet, às vezes um elemento se sobrepõe a outro num determinado estilo musical ou até se ausenta, deliberadamente ou não, mas geralmente todos os estilos musicais, independente do tempo, do lugar e da cultura em que foram criados, possuem uma combinação dos seis elementos, determinada pela mente, pela experiência, pelos sentimentos e pelas escolhas dos compositores.


Melodia

A melodia é uma sucessão de notas tocadas em tempos diferentes que formam, na maior parte das vezes, a idéia principal de uma composição. Mesmo que haja uma grande variedade de sons tocados ao mesmo tempo por instrumentos diversos, haverá sempre uma linha de pensamento musical que guia a peça, colocada de modo geral na voz mais aguda. Mesmo que se ouça um coral cantando a quatro vozes o hino Castelo Forte, acompanhado por um grupo instrumental, ainda se destacará o que chamamos melodia.


Ritmo

O ritmo é o tempo em que a música vai, a pulsação marcada dos sons ou silêncios que uma música tem. Dá-se o nome ritmo às células temporais que definem o movimento de um estilo, como o ritmo da valsa, da polca, do bolero, do tango, do samba, etc. Deve-se dizer, entretanto, que o ritmo é, tecnicamente, a batida que regula aquele estilo. Isto quer dizer que um estilo musical não é constituído apenas com o seu ritmo, mas que o ritmo é apenas um de seus componentes. O estilo musical brasileiro chamado chorinho possui o ritmo do samba canção; uma melodia complexa e instrumental; os timbres de um violão de sete cordas, de um violão de seis cordas, de um pandeiro, de um cavaquinho e de uma flauta transversa; uma estrutura conhecida por rondó; preferências por acordes mais fortes e um rigoroso entrelaçamento destes componentes.


Harmonia

Além do ritmo, compõe um estilo musical a harmonia. Este elemento é construído com a combinação de notas tocadas ao mesmo tempo. Estas combinações têm nomes próprios e possuem funções muito bem definidas na harmonia da música moderna, a música do período Barroco (1600) até o período do Romantismo (1910). Podemos afirmar que a harmonia é o pano de fundo da melodia, podendo mudar o ambiente conforme as intenções do compositor. De modo geral, a harmonia que utilizamos é bem tradicional e bem simples, por influência da música popular de massa e pelo conhecimento acentuado que temos dos hinos de um período histórico da música sacra congregacional, que vai de 1850 a 1910, quando os compositores de hinos preferiram usar harmonias menos intrincadas.


Timbre

O timbre é a cor do som. Mesmo que dois instrumentos musicais toquem a nota dó, nosso ouvido saberá diferenciar as particularidades deste mesmo som tocado por dois corpos diferentes que emitem sons por processos diferentes, mas que possuem a mesma freqüência. É possível afirmar que o timbre influi no significado da música. Quando um compositor deseja colocar o canto de um pássaro dentro de uma sinfonia, ele não utiliza o som de um contrabaixo, mesmo que o contrabaixo tenha condições de produzir um som numa altura relativamente aguda. O compositor vai preferir utilizar o som de uma flauta. Deste modo, podemos considerar que haverá certos instrumentos musicais, com o som bem característico, associados fortemente a um estilo musical, que não serão apropriados para adoração em nossas Igrejas, porque farão com que nossos adoradores brasileiros associem o som daquele instrumento com aquele estilo musical que representa um estilo de vida ou uma ideologia ou um comportamento ou uma religião contrária ao cristianismo reformado e congregacional. Posso citar dois exemplos para nossa época e para nosso povo: o berimbau e a cuíca. O primeiro está entranhado da capoeira e das religiões afro-brasileiras e o segundo, no seu timbre, está associado com brincadeira, a descontração e a sensualidade do samba.


Por outro lado, há instrumentos musicais extremamente ecléticos, por causa do seu uso e por causa da variedade de possibilidades sonoras que ele possui. O piano é um bom exemplo dessa versatilidade. Este instrumento tem 88 notas que podem ser tocadas em extrema variação de dinâmica, tempo, fraseado, técnicas e colocação, enquanto o berimbau, mesmo que tenha sido mostrado por muitos percussionistas a capacidade relativa do berimbau, este instrumento só tem uma corda só. Com o piano é possível tocar desde Johann Sebastian Bach até Naná Vasconcelos.


Forma e Textura

Outro elemento da música é a forma, o modo como uma música se organiza, ou seja, a sua estrutura. Se tudo na música for repetição, ela será monótona; se tudo for sempre novo, a música será ilógico e difícil de acompanhar. O hino que começamos a aprender tem a estrutura AAB, isto é, as duas primeiras frases musicais são as mesmas. Quando aquelas frases estão bem estabelecidas o autor muda para uma frase diferente que possui um final ligeiramente parecido com o final das duas primeiras frases. Os compositores costumam entender as formas musicais em que os outros compositores escreveram suas músicas e produzem obras com as mesmas formas. Alguém que queira compor música erudita hoje estudará as formas musicais conhecidas como sonata, sinfonia, suíte, fuga, variação, etc. Cada uma dessas formas musicais tem uma estrutura definida e, em determinadas épocas, são compostas num determinado estilo.


Geralmente ouve-se que Martinho Lutero utilizou músicas que eram cantadas em bares para colocar letras cristãs, tornando estas músicas mais acessíveis para o povo da Igreja. Um exame mais criterioso do método luterano de difusão da doutrina cristã através da música esclarecerá que o que Lutero utilizou foi uma forma de canção simples e umas poucas melodias folclóricas que nada tinham a ver com o pretenso mundanismo da afirmação. Ainda que tenha usado a forma, a estrutura, não utilizou o estilo e se aliou a grandes poetas e músicos do seu tempo como Josquin De Préz para publicar o hinário em que trabalhou. As músicas "Garota de Ipanema", de Tom Jobim e "Logo de Manhã" de Aristeu Pires tem a mesma forma, mas estilos completamente diferentes.


Textura é o elemento musical do arranjo, isto é, como estes elementos são entrelaçados.


Os Estilos Musicais e Algumas Polêmicas

A música que cantamos ("Eis que uma Rosa Surge") deu preferência à melodia. Ela possui uma marcação de tempo, mas esta marcação está diluída em favor da expressão melódica. Muitos livros que tratam de como a música deve ser utilizada na Igreja defendem este desequilíbrio, uma música mais melódica que rítmica. Noto, porém, que a música eminentemente melódica, sem acentuação rítmica, para maioria de nós, é estranha e até desagradável, por causa da música que nossa cultura tem produzido por séculos, por causa do estilo de vida moderno, sempre regulado por um tempo preciso e por causa da associação natural que fazemos entre o tempo marcado e a alegria. Aliás, quando estamos felizes, falamos mais rápido, usamos sons mais agudos e saltamos sonoramente com nossas palavras.


Outro fator muito importante na construção rítmica da nossa música é o fato de que somos brasileiros. Isso mesmo! Somos brasileiros. Estamos imersos numa cultura que possui uma variedade rítmica enorme, tanto de ritmos diferentes quando de instrumentos percussivos variados. No Brasil, para citar ritmos eminentemente brasileiros temos o samba , o xaxado, o batuque, o maracatu, o lundu, o carimbó, o xote, o baião, o forró, o frevo, a bossa-nova, a catira, a embolada, o axé, para citar apenas alguns deles, lembrando que estes ritmos e os estilos que eles acompanham têm uma série de vertentes e nuances regionais. Por exemplo, o maracatu cearense não é o mesmo ritmo do maracatu de Recife. Não estou afirmando que estes ritmos e seus estilos são corretos, estou afirmando que nós, como pastores não podemos tratá-los como se eles não existissem e devemos procurar responder à pertinente pergunta: "posso usar estes ritmos e estilos na adoração em Igrejas Batistas Regulares Brasileiras?"


Simplesmente afirmar, como alguns dos nossos livros e pastores afirmam, que eles não são apropriados, porque possuem uma síncope regular e a síncope regular é sensual, não é suficiente. Há muitas músicas da cultura erudita ocidental que possuem síncope regular e recorrente que, no meu ver, não são sensuais. É preciso formular uma análise mais criteriosa que leve em consideração todos os elementos musicais daquele estilo, a cosmovisão que o gerou, o contexto histórico, a situação social e antropológica.


Considero o rock'n'roll uma música inapropriada para o culto cristão por causa da síncope regular recorrente aliada a outros usos dos elementos musicais, que criam um estilo musical representante de uma visão de mundo não cristã. A visão de mundo do rock'n'roll é anarquista, é a favor da Revolução Sexual, projeta-se como uma opção aos valores cristãos, valores dentre os quais podemos citar: moral estabelecida e absoluta, primazia da família, autoridade divinamente instituída e diversão com responsabilidade. Para negar estes valores o rock utiliza as síncopes com que o ouvido Europeu está menos acostumado, como uma agressão ao ritmo ditado pelas obrigações de horário da fábrica da sociedade industrial e como um recurso para tornar a música excentricamente dançante. Para negar os valores cristãos, o rock introduz timbres ásperos na instrumentação, como os timbres das guitarras com distorção, as percussões fortíssimas do conjunto de bateria. Para negar os valores cristãos, o rock utiliza uma performance que visa enaltecer o homem e não Deus ou a arte, uma vez que o principal músico do conjunto, vocalista ou guitarrista, é sempre destacado pelas loucuras que faz, pela iluminação, pelo virtuosismo com que participa da apresentação.

Os instrumentos musicais

Já afirmei que o timbre de um instrumento musical possui significado. Dependendo do som que o instrumento produz, resultado da constituição do instrumento, do modo como a caixa de ressonância do instrumento faz o som do instrumento reverberar, o instrumento musical é classificado. Grosso modo, os instrumentos podem ser classificados no seguinte:


Cordofônicos – os que produzem som através da vibração de cordas, friccionadas, dedilhadas ou percutidas, cujos exemplos são o violino, o violão e o piano;

Aerofônicos – os que produzem som através da alteração de uma coluna de ar, cujo exemplo é os instrumentos de sopro, como as flautas e o órgão de tubos;

Idiofônicos – os que produzem som pela vibração de seus próprios corpos, não possuindo uma caixa de ressonância responsável por ampliar a vibração de outra parte do instrumento, cujo exemplo é os instrumentos de percussão, como os tambores, os sinos e o xilofone.

A utilização de instrumentos musicais depende de uma série de fatos. Depende do período histórico em que aflorou o uso daquele instrumento. A família das cordas, violino, viola, violoncelo e contrabaixo, instrumentos cordofônicos, são muito encontrados no período barroco (1600-1750), quando na Itália, famílias de artesãos passaram a construir estes instrumentos de modo mais técnico e eficiente. O período clássico (1750-1810) e o período romântico (1810-1917) viu crescer o uso dos instrumentos aerofônicos de metal como a flauta transversa, o trompete, o trombone e a tuba. A música moderna ou contemporânea (desde 1917) viu crescer a utilização dos instrumentos de percussão, os idiofônicos, por conta da busca dos compositores brasileiros por novos sons e possibilidades que não lembrassem o tradicionalismo dos períodos anteriores. Isto não quer dizer que os todos os tipos de instrumento não foram usados em todos os períodos, mas que o estilo e a formação do compositor influenciavam muito na escolha dos instrumentos.


Pensando na música da Igreja, a utilização de qualquer instrumento musical dependerá do estilo musical a ser adotado na Igreja. A polêmica da introdução da bateria, de outras percussões, da guitarra elétrica e do baixo elétrico, bem como do modo pelo qual estes instrumentos são utilizados, depende mais do estilo do que da introdução do instrumento musical em si. Como a bateria é utilizada num estilo musical não cristão, costumamos demonizá-la como se o instrumento em si pudesse desvirtuar a adoração cristã. A bateria ou um conjunto percussivo executado por um instrumentista pode ser utilizado em qualquer estilo musical, dos mais refinados aos mais populares. Deste modo, com o músico certo e o arranjo certo, um conjunto percussivo poderia ser usado em nossas igrejas sem impor nenhum estilo mundano aos nossos cultos.


Apesar de reconhecer isso como músico cristão, como batista regular penso que esta prática ainda criará mais problemas do que soluções. Lembro de que um músico muito bom da nossa Igreja me perguntou certa vez: "Quando nossa Igreja vai utilizar uma bateriazinha, hein pastor?". Minha resposta foi categórica: "Quando eu sair".


Sei por que respondi aquilo, depois de ter esboçado a opinião acima. A razão é simples. Quando a utilização de um instrumento musical for um item da implantação de um estilo musical mundano, o instrumento não deve ser utilizado. Na maior parte dos casos, quando a guitarra elétrica e a bateria foram utilizadas nas Igrejas Batistas Regulares que se renovaram da década de 1980 e 1990, foi para tocar rock'n'roll. Minha interpretação da pergunta do rapaz da minha Igreja foi essa. Uma opção plausível para introdução dos instrumentos percussivos em Igrejas de orientação fundamentalista seria as vias de estilos musicais mais sérios, ordenados e compatíveis com a formalidade do culto cristão.


Introduzir qualquer instrumento musical ao culto cristão não é obrigatório nem é condição sine qua non para adoração com cântico. Os proponentes do Princípio Regulador do Culto, herdeiro da tradição litúrgica originada em Calvino, defendem que os instrumentos musicais são proibidos no culto cristão, por fazerem parte da lei cerimonial da Antiga Aliança. Penso não ser possível defender esta posição, por causa da interpretação errônea empregada por esses teólogos de algumas passagens do Novo Testamento, alinhado pela chave hermenêutica da Teologia da Aliança. Para mim, a presença de instrumentos musicais no Apocalipse evidencia que o uso de instrumentos musicais no culto está além das fronteiras do Templo de Sombras, uma vez que eles estão presentes no Templo Celestial, de que o das Sombras é apenas figura.


Apesar disso, a adoração da Nova Aliança, a que deve ser realizada em espírito e em verdade, não deve utilizar estes recursos materiais como fonte de motivação, porque única e grande motivação é o Senhor que está sendo adorado. Achamos que um culto sem acompanhamento instrumental é desanimado. O que deveria animar o culto cristão não é o instrumento musical, mas a presença de Deus.


Utor: Pr. Renato Brito
Igreja Batista Regular de Juazeiro do Norte

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