segunda-feira, 10 de maio de 2010

Uma Ligeira Visita à Cabana


Uma tragédia terrivel, um encontro com Deus, e uma vida transformada. Este é o enredo de A Cabana, o livro que atualmente está sendo um dos mais vendidos—e mais lidos—do Brasil. Por mais impressionante que seja o sucesso nacional do livro, mais impressionante ainda é a sua trajetória ao sucesso mundial.
Ao princípio o autor William P. Young nem pensou em publicar A Cabana. Tratava-se apenas de um presente para seus filhos e amigos, explicando a sua teologia e relacionamento com Deus. A sua família o convenceu a publicar o livro, e, depois de ser rejeitado por muitas editoras, ele formou sua própria empresa. Dali virou um best seller internacional.
Elogios do livro vem de todos os lados. O cantor evangélico Michael W. Smith diz “Se você tiver que escolher apenas um livro de ficção para ler este ano, leia A Cabana.” Mais impressionante ainda é a recomendação do teólogo Eugene Peterson, que na capa da versão em inglês, afirma que “este livro tem o potencial de fazer para nossa geração o que O Peregrino de John Bunyan fez para a dele. É tão bom assim!”
Será que estamos tratando aqui de um novo clássico da literatura cristã? Ou será que a popularidade do livro deve ao fato que reflete a filosofia pós-moderna dos dias de hoje?
Antes de examinar alguns trechos salientes do livro, vamos falar, resumidamente, do roteiro.
A Cabana é a história de Mackenzie (chamado pelo apelido de “Mack”), homem que venceu um triste passado para criar uma família amorosa e aparentemente bem-sucedida. De repente ele sofre uma tragédia terrível—a sua filha mais nova é sequestrada, estrupada, e morta. Nem o corpo, nem o assassino são encontrados, mas a evidência achada numa cabana situada numa montanha remota deixa claro o que aconteceu.
O mundo do Mack vira de cabeça para baixo. Ele tenta resolver as suas emoções por si só, mas tanto ele quanto a sua famíla sofrem. Um dia ele recebe uma carta misteriosa, convidando-o a comparaçer à cabana. A carta é assinada “Papai”, que ele entende ser Deus.
Tomado por curiosidade, o Mac faz a dolorosa viajem até a cabana onde a sua filha fora morta. Alí ele encontra a Trindade: Deus Pai—na forma de uma mulher africana, Deus Filho—na forma de um homem judeu, e Deus Espírito—apresentado como uma mulher asiática que se chama Sarayu.
A maior parte do livro é dedicada à conversa entre Mac e essas três “pessoas”. Eles falam da existência do mal, o caráter e plano de Deus, e o relacionamento entre Deus e o homem.
Young escreve muito bem, e sabe mexer com as emoções do leitor. Mais de uma vez me encontrei com lágrimas ao ler certos trechos do livro. Infelizmente, creio que muitos leitores irão se deixar a serem levados pelas emoções, ao ponto de ignorarem problemas sérios com a teologia apresentada no livro.
E não se enganem, A Cabana é, acima de tudo, um livro de teologia. Pode ser ficção, a imaginação de um homem quanto à pessoa de Deus, mas nem por isso deixe de comunicar uma menságem teológica. Sendo assim, é preciso avaliar A Cabana como qualquer outra obra teológica.
Entre todos os problemas teológicos que existem no livro (e são muitos) quero destacar três que são, na minha opinião, fatais.
A Palavra de Deus
A versão em inglês contem a seguinte frase na página 67:
“A voz de Deus fora reduzida a papel, e mesmo aquele papel precisava ser moderado e decifrado pelas autoridades apropriadas.” (tradução minha)
Não sei porque essa frase não aparece na versão na lingua portuguesa (devia aparecer na página 59), porem ela demonstra a atitude do autor quanto às Sagradas Escrituras. São apenas uma representação imperfeita e seca da voz de Deus, e—o que é pior—são interpretadas por autoridades que querem impor controle.
Comparem com que a Bíblia diz a respeito de se mesma:
“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (Hebreus 4:12)
“Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça,” (II Timóteo 3:16)
“Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido.” (Mateus 5:18)
Outro trecho revelador encontra-se na página 185. Mack está conversando esta vez com Sarayu, e ela afirma:
“Você pode me ver numa obra de arte, na música, no silêncio, nas pessoas, na Criação, mesmo na sua alegria e na sua tristeza. Minha capacidade de me comunicar é ilimitada, vivendo e transformando, e tudo isso sempre estará sintonizado com a bondade e o amor de Papai. E você irá me ouvir e me ver na Bíblia de modos novos. Simplesmente não procure regras e princípios. Procure o relacionamento: um modo de estar conosco.”
Aqui Young coloca a revelação geral no mesmo nivel que a revelação especial. É claro que Deus se revela através da Criação, (Salmo 19) e é possível ver a sua graça comum nas obras de arte e música (Mateus 5:45). Porem a Bíblia é bem clara quanto a necessidade e natureza da revelação especial. (Romanos 10:17)
A implicação clara destes trechos—e outros espalhados pelo livro—é que se alguem tiver o impulso de avaliar o que está sendo ensinado no livro ele está culpado de “reduzir a voz de Deus ao Papel” e “procruar regras e princípios”.
Aqui está uma boa regra para todo cristão lembrar quando confrontado com qualquer obra deste tipo: quando o autor tenta subestimar a Palavra de Deus, é porque sabe que seus ensinamentos não vão resistir a luz clara da Verdade.
A Pessoa de Deus
Uma área importantissimo onde A Cabana não resiste essa “luz clara da Verdade” é na sua apresentação da pessoa de Deus. Ausente é qualquer referência à sua majestade, sua grandeza, seu poder. Deus é uma “Tia Nastácia” celestial que só quer nos abraçar e consolar. Veja o momento em que Mack se encontra com Deus Pai—ou seja, “Papai”:
“Com uma velocidade supreendente para o seu tamanho, a mulher atravessou a distância entre os dois e o engolfou nos braços, levantando-o do chão e girando-o como se ele fosse uma criança pequena. E o tempo todo gritava o seu nome, Mackenzie Allen Phillips, com o ardor de alguém que reencontrasse um parente amado há muito perdido. Por fim colocou-o de volta no chão e, com as mãos nos ombros dele, empurrou-o para trás, como se quisesse vê-lo bem.”
Isso tem algo a ver com os encontros com Deus que vemos na Bíblia? Isaías, por exemplo:
“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Serafins estavam por cima dele...E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; Toda a terra está cheia da sua glória...Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” (Isaias 6:1-3)
Moisés, os discípulos presentes na transfiguração, Paulo—todos tiverem reações de grande temor e tremor ao deparar-se com a glória de Deus. Esta reação está completamente ausente de A Cabana.
Outro ponto pertubador: o simples fato de apresentar dois terços da Trindade como mulheres indica a forte aversão que o autor tem a cerca de qualquer autoridade divina. Mesmo no final, quando Deus Pai aparece ao Mack como homem ele faz questão de colocar um rabo de cavalo. Deus, na sua forma mais masculino, é para Young pouco mais do que um hippie.
De fato, um dos sub-temas mais importantes do livro é o conceito de Pai. O autor apresenta em detalhes o abuso que Mack levou às mãos de seu pai, e a vingánça que tomou dele. Quando você ouvir o testemunho do próprio Young, tudo fica mais claro: isso tudo reflete os sentimentos que ele tem para com seu próprio pai. Mas em vez de apresentar uma visão bíblica e consoladora de Deus como “Pai dos órfãos”, ele apresenta Deus como Mãe...ou no máximo um Pai sem qualquer potência.
Assim, o Young não faz nenhum favor aos milhares de pessoas que precisam desesperadamente saber como Deus pode ser um Pai para eles.
A Propiciação de Deus
Quem não tem um conceito correto quanto a pessoa de Deus dificilmente vai acertar na natureza de sua obra. Veja o seguinte trecho, mais uma vez na voz do “Papai”:
“Não preciso castigar as pessoas pelos pecados. O pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por dentro. Meu objetivo não é castigar. Minha alegria é curar.” (página 109)
Veja como a visão de Deus como “bonzinho” (ou seja, boazinha) influencia a doutrina da salvação. Um “Deus de amor” certamente não vai castigar ninguem.
Deus é amor. A Bíblia afirma isso claramente. Deus tambem é justiça. A justiça de Deus exige que sua lei seja cumprida, e quem violar esta lei seja punido.
Pergunta: Como podemos reconciliar o amor de Deus para com a sua criação com a sua justiça?
Resposta: Jesus.
“Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.” (Romanos 5:8)
Vejam bem: Na cruz de Cristo a justiça de Deus e o amor de Deus foram perfeitamente reconciliados. Se Deus não precisasse castigar o pecado, a morte de Cristo seria totalmente sem sentido.
E é aqui que temos—na minha opinião—o erro mais grave de A Cabana, pois isso atinge a própria natureza do evangelho. Young afirma no livro que a morte de Cristo serviu para Deus se reconciliar com os homens. Isto é verdade. Mas é apenas uma parte da verdade. A morte de Cristo serviu para afastar de nós a ira justa de um Deus santo. É isto que João afirma quando ele chama Jesus de nossa “propiciação” (I João 2:2).
Visto o entendimento errado da natureza da morte de Cristo, não devemos ficar surpresos, então, que Young chega muito perto do universalismo (a ideia de que todos serão salvos).
Conclusão
Não quero deixar a impressão de que A Cabana não possua nenhuma coisa boa, ou que não fale nenhuma verdade. Young é capaz de falar eloquentemente de conceitos como honestidade com Deus, perdão, e outros aspectos da vida cristã. É difícil, porem, recomendar esse livro sabendo que entre as verdades ela vai encontrar heresias altamente destrutivas.
Na verdade, a única coisa que A Cabana tem a ver com O Peregrino é o número de palavras no título.

SOBRE O AUTOR
Andrew Comings é natural do estado de Nova Iorque, nos EUA. Criado num lar cristão, ele aceitou a Cristo sendo ainda jovem.
Formado com Bacharel de Artes em Estudos Bíblicos pelo Spurgeon Baptist Bible College (agora integrado ao Piedmont Baptist Bible College), ele tambem cursou no Seminário Batista do Cariri de 1994 a 1996. Atualmente ele serve como professor e coordenador de estágios ministeriais no SBC.
Nas suas horas livres ele é roteirista e diretor de um programa de TV, A Cidade Feliz, e é autor de dois blogs: Comings Communiqué (http://www.comingstobrazil.com) e Caderno Teológico (http://cadernoteologico.wordpress.com).
Andrew é casado com Itacyara Bezerra Comings—natural de São Luís do Maranhão e formada do SBC. Eles têm dois filhos, Michael e Nathanael.
Contatos:
e-mail: brazilnut72@gmail.com facebook: www.facebook.com/AndrewComings twitter: www.twitter.com/AndrewComings

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Manifestando a Graça de Deus na Adoração.


Texto: Is 6:1-7
Introdução:
W. T. Conner escreveu: “O negócio primário, pois, da igreja não é a evangelização, nem as missões, nem a benevolência; é a adoração. A adoração a Deus em Cristo deveria estar no coração de tudo o que a igreja fizesse. Ela é a mola mestra de toda a atividade da igreja”.
Adoração cristã significa encontro com Deus. Sabemos quem está sendo adorado numa determinada igreja, verificando a quem a cerimônia está tentando agradar.
Liturgia, culto e adoração são três termos importantes em relação à prática religiosa que, caso sejam bem compreendidos, enriquecerão nossa experiência espiritual.
A liturgia tem há ver mais com nossas formas; culto, com nossas atitudes e adoração, mais com sentimentos e compreensão da relação de dependência e do sentimento de temor ao Deus a quem adoramos.
Considerando o acontecimento na vida de Isaias, podemos perguntar: Quanto à adoração manifesta a graça de Deus?
Acredito que temos aqui duas situações que manifestam a maravilhosa graça na adoração:
1. Na atitude reverente do adorador – v. 1-5
Encontramos aqui anjos e homem com um só sentimento: reverência diante de Deus.
Reverenciar é reconhecer a superioridade. No caso de Deus é reconhecer a sua soberania, sua majestade.
O excesso de intimidade gera irreverência. Ser irreverente com relação a Deus é rebaixar Deus ao nosso nível, é tratá-lo como se fosse um de nós.
“O primeiro sinal da decadência de um povo é o abandono de um elevado conceito de Deus” (A. W. Tozer)
Um conceito distorcido de Deus nos leva a uma falsa intimidade ou a um excesso de intimidade, o que acaba sendo a mesma coisa.
Você o que diz quando está diante de Deus?
Em muitas igrejas falta este sentimento de reverencia a presença de Deus no culto. As pessoas se comportam de qualquer maneira. Não se dá a devida importância a leitura das Escrituras e a pregação da palavra.
A cultura cristã de hoje não sabe ou não entende o que é reverência. Acham que reverência é ficarem de pé para lê as Escrituras. Ou mudar a tonalidade da voz.
Adorar com reverência é um sentimento que deve ser natural. É ouvir a pregação da palavra como se daquelas palavras dependesse toda a sua vida.
O ato de adorar segue um padrão estabelecido por Deus, não é de acordo com a nossa compreensão.
Deus não receberá a nossa adoração a luz da nossa compreensão, mas a luz da Sua Palavra. Ap 1:17 – 18 / Hb 12:28 – 29.
A reverência que manifestamos no culto é uma resposta da nossa compreensão de Deus. Por perde a dimensão de quem é Deus, muitos busca adorá-lo sem reverência.
Alguns acham que culto é lugar de repouso, por isso temos tantas pessoas a vontade e os que dormem.
Outros acham que culto é ir à praça pública, se vai de qualquer jeito, a qualquer hora, fazendo o que dá vontade.
Creio então que a primeira situação que manifesta a maravilhosa graça de Deus na adoração é através de um sentimento de reverência a Deus.
Uma segunda situação que é manifestada a graça na adoração é:
2. Na atitude de Deus em nos aproxima dEle. V.6-7
Isaías sentiu essa maravilhosa graça. Um anjo voou em direção a ele, e na purificação promovida por Deus, Isaías pode estar na presença de Deus.
Houve um momento no céu que Deus puxou a espada da ira e a cravou em Cristo. Isto ocorreu na cruz do calvário.
O ato de adorar ocorre por que Deus por Sua graça nos aproximou dEle por meio de Cristo.
A verdadeira adoração além de estar centralizada em Deus está centralizada também na obra e sacrifício de Cristo.
Quando João Batista viu a Jesus logo declarou: “eis o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”.
Jesus sofreu os nossos sofrimentos, Ele morreu a nossa morte, Ele recebeu a ira que pertencia a nós. Tudo o que eu e você não podíamos fazer para nos aproximarmos de Deus, Ele fez.
Em Cristo somos purificados e temos então acesso a Deus. I Jo 1:7 / I Jo 3:3
Muitas igrejas e muitos crentes ainda não entenderam isso, por isso eles classificam igrejas e cultos de acordo com seus interesses.
Em muitas igrejas a obra de Cristo e o seu sacrifício estão em segundo plano. A cruz do calvário serve apenas de isca, é um meio para as pessoas chegarem à igreja. Então vem a prosperidade e outras coisas mais.
Estas igrejas bem como muitos que estão na igreja do Senhor esqueceram ou ignoram que a obra de Cristo, o seu sacrifício é o inicio, o meio e o fim da nossa união com Deus.
Perderam a cruz de vista. Não enxergam a cruz do calvário. Devemos saber que se a obra e o sacrifício de Cristo não estar em nossa adoração, ela é vazia. Sem Cristo não há culto, não há adoração.
Que Deus nos abençoe.